Na última segunda-feira (9), os trabalhadores da fábrica da Ford em São Bernardo paralisaram por 24 horas a produção em reação à pauta de ajustes apresentada na semana passada pela montadora ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A empresa informou que não vai renovar o Programa de Proteção ao Emprego (PPE) e os contratos em regime de layoff e alegou que tem um excedente de 1.110 trabalhadores.
Além disso, a Ford pretende revisar cláusulas econômicas do acordo coletivo com os funcionários, fazendo revisões na tabela salarial, no pagamento da PLR e congelamento de salários. Plano médico, transporte e alimentação também estão ameaçados. “Não dá pra aceitar uma negociação sem contrapartida, que rebaixa direitos, conquistas e condições de trabalho que tanto lutamos para conseguir. Nós concordamos em discutir a competitividade, como fazemos sempre com as montadoras sediadas aqui no ABC, mas nesse momento, entendemos que fazer isso é justamente continuar utilizando mecanismos como PPE e layoff”, disse Rafael Marques, presidente do Sindicato.
Ele lembrou que até 2013 o mercado automotivo brasileiro era um dos que mais crescia no mundo, o que garantiu grandes lucros às empresas. “Crescemos em ritmo chinês. De 2004 a 2015 as montadoras brasileiras remeteram US$ 24,5 bilhões às suas matrizes no exterior, o que ajudou no enfrentamento da crise dos EUA e da Europa. Agora esse fluxo se inverteu. As matrizes estão enviando recursos e as direções mundiais estão exigindo como contrapartida duros ajustes em suas fábricas brasileiras. Não podemos aceitar essa lógica e vamos lutar para reverter isso”, garantiu.
Para Marques, a situação enfrentada hoje pela Ford é resultado de uma série de erros que a própria empresa cometeu. “A Ford é uma das montadoras que mais importam peças. Quando o dólar começou a inverter a tendência, abordamos esse assunto com a fábrica e sugerimos que ela montasse uma equipe para nacionalizar as peças, pois seria bom para a empresa e para o País. Isso não foi feito e, hoje, com o dólar alto, o custo das peças importadas pesa bastante. Além disso, a Ford não utiliza as ferramentarias brasileiras. O Inovar Auto oferece vantagem fiscal para as empresas que desenvolvem o seu ferramental no Brasil e eles não souberam aproveitar. Há problemas sim no mercado brasileiro, mas há também problemas na direção da empresa no Brasil e no mundo. E o trabalhador não pode pagar por isso”.
Hoje (10), o Sindicato realiza nova rodada de negociação com a empresa. Rafael Marques tem a expectativa de que possa se chegar a um meio termo. “Nossa paralisação de hoje foi um alerta à direção. Queremos construir alternativas conjuntas, de forma responsável, mas os trabalhadores estão deixando claro que estão dispostos a lutar pela manutenção dos seus empregos e direitos”.
A Ford tem atualmente 3,8 mil trabalhadores. Destes, cerca de 3 mil estão sobre o regime do PPE e 400 estão em layoff, com jornada reduzida em 20%. Os trabalhadores já retornaram ao trabalho hoje.