Saúde mental

Sorocaba fecha 3 Centros de Atendimento Psicossocial

Atendimentos estão sendo encaminhados para as Unidades Básicas de Saúde (UBSs)

Jornal Cruzeiro do Sul/Daniela Jacinto
Fábio Rogério/JCS

CAPs da rua Francisco Neves, Campolim

Três Centros de Atenção Psicossocial (Caps) II, estão em processo de fechamento em Sorocaba e os atendimentos das pessoas com problemas mentais estão sendo encaminhados para as Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Pacientes ouvidos pela reportagem estão inseguros com relação à qualidade do serviço que será prestado pelas UBSs e se esses locais contarão com psiquiatras. As unidades da Praça Nova York, que atende a zona oeste; da rua Armando Sales de Oliveira, localizada na região central; e da rua Guaianazes, na zona norte, todas coordenadas pela Rede de Atenção à Saúde Mental Jardim das Acácias (da Associação Protetora dos Insanos), deixarão de atender em torno de três mil pacientes. Apenas os que necessitarem de mais cuidados serão orientados a procurar uma nova unidade, um Caps III, ainda sem data para iniciar o funcionamento.

Um Caps II é composto por equipe multidisciplinar como enfermeiros, psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais. Conforme Sandra Mescoki, coordenadora das unidades gerenciadas pelo Jardim das Acácias, as pessoas com transtornos mais leves estão sendo encaminhadas para as UBSs, mas não terão prejuízos no sentido do tipo de serviço ofertado. Apesar de não terem mais o acompanhamento com uma equipe, como no Caps II, Sandra afirma que muitas pessoas já não faziam uso desses benefícios, por conseguirem manter uma rotina de atividades em seu dia a dia, ou seja, o transtorno mental não as exclui da sociedade e por isso não necessitavam de uma atenção maior, usando o Caps II apenas para pegar receita médica. “Muitos nem precisam e nem querem receber todo esse leque de assistência”. Já com relação às condições de atendimento das UBSs, como por exemplo, se irão contar com psiquiatras, Sandra conta que soube de casos em que ainda não tinha esses profissionais nas unidades. “As UBSs ainda não têm estrutura para receber e isso está gerando situações complicadas”, disse.

Ainda de acordo com a coordenadora, o município está seguindo a política nacional da saúde mental, cuja orientação é que pacientes com grau leve de transtorno mental sejam atendidos nas UBSs. “As unidades estão sendo supridas com psiquiatras, mas devagar. O correto é que todas tenham estrutura para atendimento de pacientes com problemática leve na saúde mental”.

Os casos mais graves serão atendidos pelos Caps III. A diferença de um Caps II para o III é o horário de funcionamento, que se estende para o período noturno, e também os finais de semana. “Por enquanto só temos um Caps III na cidade, na zona norte. O próximo vai atender a zona oeste e a leste ficará sem”, diz.

Mudança gera preocupação

O porteiro Benedito Peres da Silva tem um filho que nasceu com deficiência mental. Desde os 15 anos de idade, Anderson faz tratamento. “Ele era atendido pelo Hospital Psiquiátrico Jardim das Acácias, mas com a desinstitucionalização, passou a ser atendido pelo Caps II Nova York”, conta Benedito. Atualmente com 41 anos, Anderson está passando por nova transferência, agora para uma Unidade Básica de Saúde (UBS).

Benedito conta que se dirigiu à UBS da Vila Haro e conseguiu consulta para seu filho somente para julho, no entanto os medicamentos terminam em 11 de junho, data em que seu filho precisaria de nova receita médica. “Minha preocupação maior é se lá vai ter atendimento com psiquiatra porque meu filho depende de medicamento e sem a receita não consigo comprar o remédio, que é controlado”.

A reportagem, que esteve no Caps II Nova York, conversou com uma outra paciente, que preferiu não se identificar. Naquele momento ela estava sendo informada sobre o encaminhamento para a UBS e demonstrou receio. Ela disse que se trata no local há três anos e ficou preocupada com relação a como será o atendimento em uma UBS.

Sandra Mescoki, coordenadora do Caps, informa que os pacientes que precisarem de receita podem procurar a unidade. Ela explica que os encaminhamentos estavam sendo providenciados rapidamente porque o contrato havia vencido e precisava deixar o espaço. Mas durante uma reunião com a Secretaria da Saúde na quinta-feira passada ficou definido que o local poderá ficar aberto por mais tempo. “Porque a gente não tinha mais contrato e agora o contrato será estendido para que os pacientes sejam encaminhados de forma mais tranquila”, esclarece.

A ideia, até então, era deixar o local vazio até o dia 29. “Fosse para onde fosse, os pacientes teriam de ser desligados, mas depois de ontem (quinta-feira) a gente vai poder ficar com os mais graves até que haja outra unidade que possa recebê-los”.

A coordenadora explica que inicialmente o fechamento do Caps II Nova York estava previsto para ocorrer até o dia 31 de maio. “Mas têm surgido várias situações, não há estrutura na cidade para receber essas pessoas, então agora vamos ficar um pouco mais até que seja aberto o novo Caps, o III”.

Sandra afirma que ainda não há data definida, por problemas com a questão da locação. “A gente queria começar no dia 1º de junho, mas talvez esse início seja uns 15 dias depois, isso porque a instalação de um Caps III tem particularidades que devem ser atendidas”.

O atendimento da nova unidade, no entanto, será apenas para a zona oeste. Até então o Caps II estava atendendo a zona leste e inclusive pessoas de outras cidades como Votorantim, Salto e Araçoiaba da Serra. “Agora estão sendo redirecionados. Hoje cada município tem de assumir a população de seus territórios”.

Questionado na quinta-feira sobre as mudanças, o secretário municipal de Saúde, Francisco Antonio Fernandes, disse que a Secretaria não promoveu nenhuma alteração no sistema de atendimento de saúde mental no município. A resposta emitida pelo secretário, via assessoria de imprensa, ainda informa que estão sendo avaliadas medidas de curto a longo prazos, e que no caso de haver qualquer alteração no sistema, a medida “seria previamente divulgada pela mídia local e meios oficiais de comunicação”.

Saiba como fica a situação

Dos oito Caps que Sorocaba tinha até então – dois Caps II, um AD II, um AD III, um Caps III e três Infanto-Juvenil (IJ) – a cidade ficará sem os da categoria II, e ganhará um da III, ficando com seis unidades: um AD III, dois Caps III e três Infanto-Juvenil (IJ).

As diferenças de categoria se concentram, sobretudo, na ampliação do horário de atendimento. Um Caps II tem funcionamento apenas diurno, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Já o Caps III estende para o período noturno e finais de semana. Um Caps AD II inclui dependentes de álcool e drogas, mas só com horário diurno. Já o AD III, é o mesmo que o AD II, mas inclui horário noturno e aos finais de semana. “O Caps III é continuação dos Caps II e pela portaria todos os Caps AD II devem se transformar em Caps AD III. A proposta é ampliar a possibilidade de assistência”, diz Sandra Mescoki, coordenadora das unidades do Caps gerenciadas pelo Jardim das Acácias.

Para Sandra, Sorocaba ainda está com déficit na área. O Caps III é para uma área de abrangência de 200 mil habitantes. Como no momento a cidade tem o da zona norte e está prestes a inaugurar mais um, faltaria ainda mais um, que na sua opinião deveria ser instalado na zona leste. “Essa região está desprovida de um Caps e não sabemos quando será providenciado”.

O Jardim das Acácias também gere um Caps AD II, que funciona na rua Brigadeiro Tobias, 716, mas mudará de endereço, com ampliação de atendimento. “Iremos para a rua Padre Manoel da Nóbrega, mas o funcionamento também será à noite e aos finais de semana,

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