Mesmo sendo verdade que “saúde não tem preço”, a ganância capitalista faz com que ela custe caro. Pior: faz com que a doença seja lucrativa pra uns, enquanto é extremamente onerosa para a maioria da sociedade.
Além das vítimas de acidentes e doenças ocupacionais, também o conjunto da população paga pela falta de investimentos das empresas em segurança no trabalho e pela comercialização da saúde.
Para o trabalhador que sofre um acidente de trabalho ou é acometido por alguma doença ocupacional, a recuperação da saúde – total ou parcial – custa ter seus rendimentos reduzidos devido ao afastamento do trabalho. Outros custos, nesses casos, são com medicamentos, tratamentos não cobertos por convênios, constantes buscas por atendimento na rede pública, gastos de deslocamento, entre outras despesas relacionadas diretamente ao acidente ou doença.
A queda de rendimento e as despesas extras de cada trabalhador doente acarretam em perdas financeiras para toda a família dele.
Mas, se não bastasse o impacto financeiro, o custo emocional e psicológico do problema de saúde na vida do trabalhador e de seus familiares é elevadíssimo.
Todo esse prejuízo do acidente ou doença cresce exponencialmente quando há sequelas permanentes para o trabalhador, causando perda de capacidade laboral.
Já os problemas emocionais, que vêm fazendo mais vítimas a cada dia no mercado de trabalho, são decorrentes não somente das eventuais limitações físicas causadas pelo acidente ou doença, eles estão também ligados à forma como o trabalhador lesionado é tratado pela empresa e pelo INSS.
Infelizmente, é bastante comum o trabalhador lesionado ser tratado como “peteca” entre a empresa e o INSS. Após o acidente ou doença, dependendo da gravidade, o trabalhador fica afastado do trabalho e recebe auxílio financeiro do INSS. Nesse período, o empregador “se livra do problema”. É comum, no entanto, depois de um tempo, a seguridade social considerar o lesionado “apto ao trabalho” e mandá-lo de volta à empresa.
Já abalado pelo empurra-empurra, o trabalhador é reintegrado em novas funções e, muitas vezes, passa a sofrer discriminações no ambiente de trabalho devido à redução de sua capacidade laboral.
Mas, além desse alto preço pago pelo lesionado e seus familiares, há também o custo social dos acidentes e doenças ocupacionais.
Os acidentes ocorrem no ambiente de trabalho e, na maioria das vezes, por falta de prevenção, manutenção de máquinas, excesso de jornada, falta de equipamentos de proteção individual (EPI) e outros fatores de responsabilidade do empregador. No entanto, o órgão público é que se encarrega do sustento do lesionado na maior parte do tempo em que ele fica afastado do trabalho ou, também, em caso de aposentadoria.
Estima-se que o SUS gaste hoje cerca de R$ 6 bilhões por ano com auxílios para acidentes ou doenças ocupacionais, sem contar os custos da previdência com aposentadorias precoces.
E quem paga pela manutenção do Sistema Único de Saúde e da previdência? A sociedade toda.
Os empresários podem dizer que eles também pagam os custos dos acidentes e lesões no ambiente de trabalho, pois perdem uma força de trabalho [quando alguém adoece] e porque contribuem com o INSS.
Mas, pelo visto, a maioria das empresas ainda considera mais vantajoso ter despesas com o acidente ou doença ocupacional do que investir em prevenção.
As empresas também podem dizer que cuidam da saúde do trabalhador oferecendo planos de saúde. Mas é fato que muitos convênios, para agradar às empresas, negam-se a fornecer até atestados quando o trabalhador adoece. Quais as opções do trabalhador então? Trabalhar doente e agravar sua situação de saúde ou recorrer à rede pública de saúde para obter o atestado que precisa.
Novamente, nesses casos, a sociedade paga o custo pela economia do patrão e pela mercantilização da saúde.
Mais do que tratar a saúde como uma mercadoria; há uma tendência cruel do capitalismo de tratar também a doença como um produto comercializável.
Dessa forma, custa caro manter a saúde. Mas, se ficar doente, o preço é ainda maior.
A estrutura privada que atende à saúde e à doença não para de crescer e de lucrar. As propagandas de venda da saúde são elaboradas para encantar o consumidor, da mesma forma que comerciais de veículos ou de bebidas.
Algumas dessas empresas do ramo de saúde e de farmácia desafiam governos e se esquivam de responsabilidades judiciais.
Ao trabalhador lesionado e seus familiares só restam a melancolia e a revolta de saber que seu problema não passa de mais um número nas estatísticas. Passa a ser deprimente constatar que, casos como o seu, são, cada vez mais, tratados como um produto, uma mercadoria exposta nas prateleiras do grande mercado capitalista.
Cabe à sociedade – e a Sesispat se dispõe a ser um dos instrumentos nesse sentido – debater esse tema e fazer esforços conjuntos para que a saúde realmente não tenha preço; para que ninguém tenha que pagar a conta e para que ninguém ganhe com a doença.