A Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) criou 7.788 empregos com carteira assinada entre janeiro e setembro deste ano. Pesquisa da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) divulgada na segunda-feira, dia 15, e feita com bases nos dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostra que o mercado de trabalho formal dos 26 municípios que formam a RMS registraram alta de 1,6% com relação ao mesmo período do ano passado.
O destaque positivo ficou para o setor de serviços que gerou 6.307 novos postos de trabalho em nove meses. A indústria de transformação, ao contrário, fechou 870 vagas durante o mesmo intervalo de tempo. Com um total de 496.572 empregos formais, a RMS é responsável por 3,8% dos empregos com carteira assinada no Estado de São Paulo.
Se considerado o desempenho da RMS no terceiro trimestre do ano (de julho a setembro), com 1.104 vagas criadas, houve alta de 0,2% em relação ao segundo trimestre do ano. A pesquisa aponta que, neste período, o setor de serviços gerou 1.882 vagas, com aumento de 1,1% em relação ao segundo trimestre. A indústria teve desempenho ainda mais negativo com o fechamento de 2.094 postos de trabalho. A queda, em comparação ao trimestre anterior, foi de 1,2%. O estudo é feito a partir das informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado mensalmente pelo MTE.
Depois de nove anos trabalhando em uma fábrica de aparelhos celulares e produtos de tecnologia, Anderson Marcos da Silva, 38, resolveu buscar qualificação para mudar de área e hoje trabalha em uma empresa de automação de serviços bancários. Ele, que se desligou do antigo emprego em setembro deste ano, conta ter tomado a decisão por conta do mau momento enfrentado pelo setor industrial.
“O salário que ganho hoje também é mais interessante do que eu ganhava no outro emprego”, revela. Silva não teve medo da mudança, mas explica ter planejado e se preparado para isso. “Quando conversei com o entrevistador, ele se interessou pelo fato de eu estar fazendo cursos de informática”, revela. Segundo ele, a escolha enriqueceu o currículo profissional e trouxe mais segurança pois agora tem qualificação para trabalhar em áreas diversas.
Instabilidades macroeconômicas
Professor do curso de economia da Universidade de Sorocaba (Uniso) e docente na Faculdade de Tecnologia (Fatec) em Sorocaba, Marcos Canhada afirma que o resultado negativo da indústria da região é consequência do quadro da instabilidade macroeconômica no País. “O setor industrial espera sinalizações mais firmes para fazer investimentos. Nós já esperávamos por isso e acredito que esse quadro negativo deva se manter no próximo trimestre”, diz. Canhada lembra também que esse foi um ano eleitoral, de Copa do Mundo no País e com uma onda de manifestações populares. Segundo ele, isso faz de 2014 um ano atípico, trazendo ainda mais insegurança para investimentos.
Com relação ao setor de serviços, Canhada lembra que o segmento vem apresentando crescimento durante o ano inteiro. “A economia se movimenta muito pela necessidade e isso provoca um crescimento deste setor. Cada vez mais, o consumidor final busca por prestação de serviços”, comenta o economista. A terceirização em diversas atividades econômicas, continua ele, também pode ser apontada como um dos motivos para aumento de vagas no setor. Apesar do atual resultado positivo, Canhada acredita que o setor, no próximo trimestre, apresente estabilização. “Não percebemos esse número ainda sendo afetado pela política macroeconômica já o segmento industrial reage de forma imediata à economia”, complementa o professor.
“Boa para trabalhar”
“Só não trabalha quem não quer, Sorocaba é boa para trabalhar”, fala a caixa da padaria Real, Maria Benta Baldacini Gabriel, 63. Ela ficou desempregada em março e conseguiu a recolocação em setembro deste ano, quando ficou sabendo do processo seletivo. “Foi muito rápido. Vim em um dia e no outro estava trabalhando”, comenta a atendente, que completou o segundo grau depois dos 50 anos. Na padaria, ela começou trabalhando com salgados, passou para a área de lanches e, recentemente, foi promovida para o caixa do estabelecimento. Maria Benta trabalha na área de alimentação há dez anos e conta que a idade não chegou a atrapalhar na busca por um novo emprego. “A experiência me ajudou a encontrar a vaga, a experiência fala muito mais alto”, afirma.
Faxineiro, atendente de lanchonete e auxiliar de escritório são as ocupações com maior abertura de vagas, aponta a pesquisa. Entre as funções que registraram fechamento de vagas de forma mais expressiva estão montador de equipamentos elétricos, supervisor administrativo e operador de produção química, petroquímica e afins. Delegado do Conselho Regional de Economia (Corecon) e professor na Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens), Sidney Oliveira destaca que a indústria é a locomotiva que puxa o restante das atividades econômicas e sua retração atingirá outros segmentos no médio prazo. “O setor de serviços, para continuar contratando, depende de um bom desempenho da indústria”, argumenta o professor e titular do Corecon.
Oliveira acredita que o destaque na contratação para funções que exigem menor grau de qualificação é consequência do aumento salarial dessas categorias. O economista lembra que as empresas têm tido dificuldade em encontrar profissionais para essas vagas e, seguindo a lei da oferta e da procura, acontece a valorização dessa mão de obra. Oliveira é otimista com relação aos próximos meses e acredita que os setores de serviços e o comércio, em função do pagamento do 13º salário dos trabalhadores e a restituição do Imposto de Renda, continue aquecido, pelo menos, até o final do ano.