Desigualdade

Pessoas negras ganham menos e estão mais desprotegidas no trabalho

Dados organizados pelo Dieese mostram as desigualdades do mercado de trabalho brasileiro; negros e negras aparecem em desvantagem em questão de salário, garantias trabalhistas e cargos de liderança

Imprensa SMetal
Marcello Casal Jr/Arquivo/Agência Brasil
Dados foram organizados pelo Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese)

Dados foram organizados pelo Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese)

No Brasil, uma mulher negra ganha, em média, R$1.614 e uma mulher não negra ganhará R$2.674. Esses mil e sessenta reais de diferença são apenas uma prévia do que é o mercado de trabalho brasileiro para negros e negras: inseguro, cheio de desigualdades econômicas e sociais.

Os dados foram organizados pelo Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese) e fazem parte de um compilado referente ao primeiro trimestre de 2021, que tem fonte na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). O estudo mostra, ainda, a diferença de R$ 1.503 entre os salários de homens negros e não negros. O primeiro grupo recebe por seu trabalho, em média, R$ 1.968 e o segundo, R$ 3.471.

Apesar de representar 55% da população geral do país, os negros e negras ainda são minoria em diversos espaços. Nos cargos de liderança, por exemplo, ao passo em que mulheres negras são 1,9% presentes em posições de chefia, as mulheres não negras ocupam uma fatia de 5%. Para os homens, o cenário não é diferente. São 2,2% contra 6,4% quando o assunto é ocupação em posições de liderança.

Insegurança, precariedade e uberização

Para além dos desfalques financeiros e de oportunidades, os negros e negras ainda são as pessoas menos protegidas por garantidas trabalhistas. São eles que, em 46% dos casos, estão empregados sem carteira assinada e/ou em funções autônomas que não contribuem com a Previdência Social.

O “trabalho inseguro” pode ser caracterizado como as ocupações informais que tiveram crescimento logo após a Reforma Trabalhista de 2017. A entrega de alimentos por aplicativo foi uma das saídas encontradas por parte dos milhões de desempregados deixados pelo governo de Michel Temer (MDB) e perpetuada, agora, por Jair Bolsonaro (sem partido), atual presidente.

Segundo um estudo chamado “Pesquisa do Perfil dos Entregadores Ciclistas de Aplicativo”, elaborado pela “Aliança Bike”, pelo menos 71% dos entregadores de aplicativos são pessoas negras e sua renda mínima mensal não chega a um salário mínio (R$.1.100).

“São as pessoas negras as que mais precisam recorrer a trabalhos subalternos e precários e as que mais sofrem com a ‘uberização’ do emprego. É muito nítido que o racismo é estrutural, principalmente quando o próprio mercado não oferece as oportunidades para o nosso povo”, lamenta Everton da Silva Santos (Beiço), do Coletivo Racial do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal).

A palavra “uberização” é um termo criado para definir uma modalidade de atuação focada no compartilhamento e no trabalho por demanda, como no próprio aplicativo de transporte Uber e no app de refeições IFood. Hoje, sociólogos e especialistas já utilizam a palavra para se referir à precarização vivenciada por muitos entregadores e motoristas de aplicativos.

Estado de São Paulo

Em São Paulo, 37% da população é negra. Deste montante, apenas 2,3% das mulheres e 3% dos homens negros hoje ocupam alguma função de liderança. Nos salários, novamente o cenário da discrepância se repete: mulheres negras ganham R$1.165 a menos do que as não brancas; já os homens negros ficam com R$ 1638 a menos em seus salários médios.

Para o presidente do SMetal, Leandro Soares, é dever das empresas preservarem a igualdade salarial, mas é função das entidades e movimentos estarem atentos para cobrar que essa prerrogativa seja respeitada. “Dando um exemplo próximo, nas nossas negociações por cláusulas sociais e econômicas, buscamos sempre que os companheiros estejam equiparados quanto aos salários e benefícios. O que podemos fazer é pressionar, cobrar e averiguar. As empresas precisam construir políticas que possibilitem que todos tenham as mesmas condições em um ambiente de trabalho”, analisa Leandro.

O Sindicato dos Metalúrgicos luta, diariamente, para a construção de uma sociedade sem racismo e desigualdades. Para tanto, há anos promove debates e apoia financeiramente ações afirmativas que debatam o racismo estrutural, além de incentivar que seus dirigentes estejam ocupando espaços de liderança e protagonismo neste debate.

No próximo sábado, dia 27 de novembro, o Sindicato promove a 2ª Mostra de Cultura e Arte Negra “Ubuntu SMetal”. Para saber mais, clique aqui.

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