Nomeado arcebispo de Sorocaba pelo Papa Francisco no final de ano passado, dom Júlio Endi Akamine assumiu o posto à frente da Cúria Metropolitana há pouco mais de um mês. Ele substitui dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues, que pediu renúncia ao Vaticano após completar 75 anos de idade.
Hoje com 54 anos, dom Júlio é o primeiro arcebispo nipo-brasileiro no país. Natural de Garça, na região de Marília, ele não conhecia a região de Sorocaba, só tinha vindo uma vez numa paróquia em Votorantim. “Agora estou me familiarizando, visitando os padres, todas as paróquias da Arquidiocese. São 12 cidades e mais de 60 paróquias”.
Em entrevista à Imprensa SMetal, Dom Júlio defendeu a nota publicada pelo Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que critica a Reforma da Previdência, proposta pelo presidente não-eleito Michel Temer (PMDB).
Segundo o arcebispo, o posicionamento da CNBB vem num momento bastante oportuno, especialmente porque as informações sobre a real situação da Previdência são muito contraditórias. “É uma posição de prudência no sentido de, antes de fazer mudanças que vão acarretar em sacrifício, principalmente para os mais pobres, conhecer a situação real das coisas, de que elas não sejam manipuladas e as informações sejam verdadeiras e íntegras para população, para que, de fato, a gente possa tomar decisões”.
Ela aponta ainda que a discussão acerca da Reforma da Previdência não deve ser de cunho político, partidário ou ideológico, o que, na sua visão, prejudica os mais pobres. “Se trata de um embate público e a igreja participa de modo pleno, de modo cidadão, visando o melhor para o país, para que a gente não siga a lógica da exclusão das pessoas”, afirma.
Indiferença é ruim
O arcebispo também revela que todo católico é encorajado a se engajar no debate. “A igreja pode ser um polarizador no sentido de fazer com que as pessoas caiam na conta da importância disso. Sempre tem alguns perigos nisso, como um sentimento de impotência, não dá para fazer nada. Mas a gente pode e dever fazer, combater esse sentimento de derrota, de impotência, de não poder colaborar”.
Dom Júlio afirma ainda que outro perigo é a indiferença diante do cenário que está colocado e defende que todos têm responsabilidade no vai acontecer. “Todos nós estamos implicados nisso. Vai ter consequência para nós, mas também para próximas gerações. Nós estamos decidindo pelo futuro das próximas gerações. Então indiferença também não cabe”.
Campanha da Fraternidade
Sobre a Campanha da Fraternidade 2017, que tem como tema “Biomas Brasileiros e Defesa da Vida”, Dom Júlio explicou que ela tem o intuito de trabalhar a preservação da natureza, pensando além do aspecto econômico. “A natureza não é um grande depósito de recursos que a gente pode usar e abusar. É uma criação de Deus. Cada criatura, por mais efêmera, mais insignificante, é uma palavra de amor do Criador e temos que estar atentos a essa linguagem. Então a Campanha da Fraternidade tem esse aspecto da ecologia humana e da fé em que a gente reconhece o Criador”.