Ao se deparar com a pandemia da Covid-19 chegando ao Brasil, o governo federal executou uma “estratégia institucional de propagação do coronavírus”. Essa foi a conclusão da pesquisa desenvolvida pela Faculdade de Saúde Pública da USP e a Conectas Direitos Humanos – uma das mais respeitadas organizações de justiça da América Latina, divulgada na semana passada.
Os resultados do estudo, que analisou 3.049 normas federais produzidas em 2020, afastam a interpretação de muitos de que haveria incompetência do governo na gestão da pandemia. Pelo contrário. O documento demonstra que, na realidade, foram inúmeras ações que desencadearam a ampla disseminação do vírus no país de forma proposital, na tentativa de alcançar a chamada imunização coletiva ou de rebanho.
A pesquisa “Direitos na Pandemia: Mapeamento e Análise das Normas Jurídicas de resposta à Covid-19 no Brasil” só comprova o que a diretoria do SMetal vem alertando há meses. O que estamos vivendo no país é uma política negacionista e genocida, sem precedentes no mundo.
Mas a pergunta que fica é: quantas das mais de 220 mil mortes poderiam ter sido evitadas se o governo tivesse implementado uma política para interromper a disseminação do vírus? Hoje, uma a cada 10 mortes por Covid-19 no mundo ocorreram no Brasil.
Estudo do Conselho Nacional de Secretários de Saúde estimava cerca de 849 mil mortes gerais no Brasil entre 15 de março e 21 de novembro de 2020. Porém, com a pandemia da Covid-19, ocorreram 195 mil mortes além dessa projeção – um aumento de 24% no período.
Enquanto Doria e Bolsonaro continuam sua briga de “vida x economia” por razões eleitorais, estamos sofrendo a maior crise sanitária e econômica já vista nas últimas décadas, e quem sai perdendo somos todos nós.
Exemplo claro dos prejuízos causados por essa disputa é o drama que vivemos pela falta de vacinas. O governo federal, em disputa com SP, não quis apostar na imunização em massa. Ao invés disso apostou no tal tratamento precoce, comprovadamente ineficaz. Agora, o país corre atrás do prejuízo para que a situação de 2020 não se repita neste ano.
Entre um governador ambicioso e um presidente despreparado, milhares de mortes ficaram pelo caminho. E para nós, brasileiros, fica a incerteza, o medo e a falta de perspectiva de futuro.
Para ajudar, o governo Bolsonaro – que fala tanto em salvar a economia – corta as únicas (e insuficientes) ações criadas para enfrentamento à Covid-19, que foi o auxílio emergencial e o benefício de proteção ao emprego e renda, pago nos acordos de redução ou suspensão do contrato.
Enquanto é negado R$ 600 aos mais pobres, em 2020, o presidente gastou R$ 1,8 bilhão em alimentos com dinheiro público – sendo mais de R$ 21 milhões em iogurte, R$ 15 milhões em leite condensado e R$ 2,2 milhões em chicletes. Parece que a crise não passou pelo Palácio da Alvorada.
Se a saúde e a economia continuarem sendo tratadas como se fossem rivais pelos governantes, tempos ainda mais sombrios nos esperam. Por isso sempre batemos na tecla de que a mobilização e união da classe trabalhadora são a única ferramenta que pode mudar os rumos do nosso país.