Brasileiros e argentinos poderão trabalhar conjuntamente a partir de 2015 na capacitação de trabalhadores e no fortalecimento de redes em montadoras de automóveis. Em reunião realizada na semana passada, em Buenos Aires, a diretoria do Sindicato de Mecánicos y Afines del Transporte Automotor de la República Argentina (SMATA) sinalizou a possibilidade do intercâmbio de conhecimento e do trabalho conjunto na construção de redes de trabalhadores em montadoras atuantes nos dois países.
A atuação conjunta está prevista dentro do projeto Promoção dos Direitos Trabalhistas na América Latina, gerida pela CUT, CNM/CUT, CNQ/CUT e Instituto Observatório Social e apoiada pelo centro de formação da central sindical alemã DGB, o DGB Bildungswerk. Em 2015, o projeto inicia uma nova fase, com apoio à construção e ao fortalecimento de redes sindicais que atuem mais amplamente na América Latina. Por isso a aproximação com os sindicatos e as centrais argentinas.
O SMATA representa hoje a maioria dos trabalhadores ligados à indústria automobilística argentina. No ano passado, o setor atingiu recorde de produção, chegando a 950 mil unidades. Em 2014, porém, a crise pela qual passa o país levou a uma queda de mais de 25%, e deve encerrar o ano com 685 mil unidades produzidas, segundo previsões da Associação de Fabricantes de Automotores. A aproximação entre os representantes de trabalhadores da Argentina e do Brasil também se mostra importante uma vez que 90% das exportações de automóveis argentinos têm como destino o Brasil.
No Brasil, o cenário também é preocupante, tanto para a economia quanto para as condições de trabalho oferecidas em tempos de crise. “No Brasil, já houve 17% de queda nas vendas de carros, mas a queda de faturamento das empresas automotivas foi de apenas 3%. Temos 42 marcas com carros que ainda estão com preços sendo ajustados pra cima. Diminuem as vendas, mas os lucros continuam. E isso tem impacto no trabalhador”, alertou o secretário geral e internacional da CNM/CUT, João Cayres.
Desafios comuns
A falta de conhecimento e da troca de informações entre as plantas nos países vizinhos é um dos desafios das redes sindicais, também percebido pelo SMATA. “Hoje, com os meios de comunicação que temos, em um segundo conseguimos saber uma noticia de qualquer país da África, por exemplo, mas ainda não conseguimos ter informações sobre quanto ganha um trabalhador africano, ou um trabalhador brasileiro, ou em qualquer lugar do mundo. Não se sabe quais são as desigualdades existentes entre trabalhadores da mesma fábrica e que estão próximos, como brasileiros e argentinos”, criticou o secretário geral da SMATA, Ricardo Pignanelli.
“A troca de informações é um dos insumos da construção de políticas de combate ao trabalho precário. Por isso a necessidade de compreender melhor a ação das multinacionais na América Latina, assim como a ação dos sindicatos e as formas de reagir às estratégias de negócios que sejam prejudiciais aos trabalhadores”, completa o coordenador do projeto, Alexandre Bento.
“É importante que haja essa aproximação entre as centrais e os sindicatos de países vizinhos, como o Brasil e a Argentina, porque a ação conjunta se torna mais forte. As redes têm esse papel de promover o diálogo e reforçar a troca de informações”, reforçou o diretor executivo da CUT e presidente do Instituto Observatório Social, Roni Barbosa.
Também participaram da reunião na SMATA o secretário sindical Gustavo Morán e o secretário de organização da entidade, Fabris Uiltor.