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A realização da Copa do Mundo é uma oportunidade ímpar para o Brasil

Estudos internacionais indicam que eventos da magnitude da Copa do Mundo proporcionam ganhos enormes, apesar de não mensuráveis, como o aumento da autoestima da população e da imagem do país no exteri

José Álvaro de Lima Cardoso (Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina)

A realização da Copa do Mundo, ou das Olimpíadas, para qualquer país, é um acontecimento desejado, raro e histórico. Tanto é verdade que o Governo da China está concentrando esforços para sediar o evento daqui a algumas décadas, mesmo que o futebol esteja longe de ser o principal esporte do país. A França está lutando para ser sede da Olimpíada em 2024. O Japão, que venceu a disputa para sediar a Olimpíada de 2020, está enxergando na realização do evento a oportunidade de retomar o crescimento e recuperar prestígio geopolítico na Ásia, cada vez mais ocupada pela projeção, em todos as dimensões, da China.

Estudos internacionais indicam que eventos da magnitude da Copa do Mundo proporcionam ganhos enormes, apesar de não mensuráveis, como o aumento da autoestima da população e da imagem do país no exterior, o que pode representar, nos anos seguintes à realização, grande aumento do afluxo de turistas, maior atração de investimentos estrangeiros e expansão da visibilidade internacional.

A discussão acerca da realização da Copa do Mundo no Brasil, tem sido dominada pela paixão, desinformação (inclusive de aspetos básicos do assunto), e má fé. Os equívocos no debate têm sido muitos. Evidente que uma parcela expressiva das informações incorretas não decorrem de ignorância, mas são veiculadas por pura má intenção ou razões políticas, muitas vezes inconfessáveis. Uma parte da paixão existente no debate, decorre de que no Brasil, o futebol representa mais do que mero esporte, é parte constitutiva da própria identidade nacional.

Como vivemos numa democracia (que precisa ainda melhorar muito), as críticas e o aprofundamento do debate são sempre fundamentais. Porém, como contribuição para a discussão, listo algumas boas razões para o país desejar sediar a Copa do Mundo:

1ª) A Copa do Mundo é um megaevento de interesse e repercussão mundial, disputado por todos os países que têm estratégias de desenvolvimento e assistida por dezenas de países e por mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo. Os ganhos econômicos são evidentes. Para a Copa no Brasil são esperados 600 mil turistas estrangeiros, que deverão aportar cerca de R$ 6,8 bilhões durante os 30 dias do Mundial. Além disso, a Embratur estima que circularão três milhões de turistas brasileiros durante a Copa, que vão injetar R$ 18,35 bilhões na economia. Segundo estudo da empresa Ernst &Young os setores de turismo e serviços irão movimentar cerca de R$ 142 bilhões na economia entre 2010 e 2014, 2,9% do PIB do ano passado. Segundo o referido estudo, o Mundial deverá gerar um crescimento da arrecadação de tributos para União, Estados e municípios na ordem de R$ 18,1 bilhões. A empresa de consultoria avalia ainda que a Copa vai gerar um acréscimo no PIB de 0,4% até 2019, com a elevação dos investimentos públicos e privados;

2ª) Ainda que seja difícil estimar um número preciso, está havendo um aumento na geração de empregos, desde o início da preparação da Copa, em função dos serviços relacionadas ao evento. Em 2010, um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) previa que a Copa iria gerar 3,6 milhões de empregos diretos e indiretos ao ano, num total de 14 milhões até 2014. Incremento de empregos indiretos são sempre mais difíceis de calcular, mas o país vive o melhor momento de sua história em geração de empregos e nesse processo, certamente houve a contribuição das obras do Mundial. Segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), somente na Copa das Confederações no ano passado, mais de 900 empresas estrangeiras visitaram o Brasil durante o torneio. Aliás, o problema do Brasil, neste momento, é até a falta de mão de obra em algumas regiões do país, especialmente qualificada para atender certas especialidades;

3º) Há uma grande confusão sobre os gastos com a Copa, em boa parte fomentada por quem torce contra o pais. O evento vai significar um gasto de quase 26 bilhões de reais. Para a construção das arenas multiuso (estádios) serão destinados 8,9 bi, cerca de 34% desse valor. Cerca de 65% dos gastos da Copa serão para infraestrutura de todo o tipo, serviços e qualificação da mão de obra. Os gastos com aeroportos (6,7 bi), quando somados aos gastos da iniciativa privada, serão maiores que o gastos com os estádios (2,8 bi até 2014). Somente com segurança pública, qualificação da força de trabalho e outros serviços serão investidos quase 2 bilhões. O fato é que, possivelmente, nenhum recurso público tenha sido tão fiscalizado quanto os recursos destinados ao Mundial de Futebol. No aspecto do controle da qualidade do emprego, foi criado um Grupo de Trabalho na OIT (Organização Internacional do Trabalho), que também acompanha as atividades relacionadas à Copa do Mundo. Esses números estão à disposição nos portais do Governo Federal, e no site oficial da Copa 2014, portal da Transparência;

4º) Os recursos que estão sendo investidos no evento não têm origem somente no setor público, mas são de várias origens como a Confederação Brasileira de Futebol, construtoras, bancos e empresas privadas. Os investimentos do governo federal são, como vimos, principalmente em obras de mobilidade urbana, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que estavam já previstas antes da Copa. Mesmo que algumas obras não fiquem pronta até a Copa, os viadutos, aeroportos, acessos e universidades ficarão a serviço da população durante muitas décadas. Os estádios que estão sendo construídos são arenas multiuso, destinados a jogos, feiras, congressos, eventos em geral. Nestas arenas haverá academias, agências bancárias, farmácia, estacionamento. O espaço servirá para eventos esportivos e não esportivos, casamentos, festas;

5º) A Copa – assim como os Jogos Olímpicos – é um momento privilegiado para começar a tornar o Brasil uma potência esportiva, como já ocorreu com países que sediaram estes eventos anteriormente (aliás, o Brasil acabou de ganhar os 10º Jogos Sul- Americanos realizados no Chile com a participação de 14 países que integram a Organização Desportiva Sul-americana, sem quase nenhuma repercussão na mídia). É o momento também de utilizar esses eventos para disseminar na sociedade a ideia das práticas físicas e esportivas como formas de manter e melhorar a saúde. Um aspecto importante, nesse sentido, é o fato de que o governo está construindo cinco mil quadras esportivas e cobrindo cinco mil quadras em escolas públicas de todo o país. Isso vai possibilitar, inclusive, a democratização da vida em geral no país;

6º) Desde final de 2011 vêm sendo inauguradas obras de mobilidade urbana em todo o país. Segundo previsão do governo, 90% das obras previstas na chamada Matriz de Responsabilidade irão ficar prontas até a Copa. Várias obras previstas no PAC foram antecipadas em função da Copa do Mundo. Mesmo que algumas obras não fiquem prontas até a Copa, as estruturas vão permanecer no país durante muitas décadas. Por exemplo, a previsão é de que a capacidade dos aeroportos nas 12 cidades-sede, deve dobrar, passando de 81,7 milhões de passageiros, em 2011, para 167,4 milhões de passageiros nas 12 sedes. Por essas e outras razões que não cabem neste espaço, a Copa do Mundo é uma oportunidade histórica para acelerar o desenvolvimento e a distribuição de renda no Brasil.

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análise artigo Brasil copa do mundo 2014 desenvolvimento do país Economia economista josé alvaro de lima cardoso PIB
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