Editorial

Justiça seja feita

A justiça feita à memória do estudante sorocabano Alexandre Vannucchi, torturado e morto pelo regime militar em março de 1973, dá sinais de esperança a milhares de outras vítimas da ditadura

Imprensa SMetal

A justiça feita na semana passada à memória do estudante sorocabano Alexandre Vannucchi Leme, torturado e morto pelo regime militar em março de 1973 (leia nesta edição), mais do que honrar seu nome e trazer conforto à família Vannucchi, dá sinais de esperança a milhares de outras vítimas da ditadura.

O número real de mortos durante os 21 anos de ditadura militar no Brasil (1964-1985) até hoje é desconhecido. A Comissão da Verdade, ligada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, conseguiu comprovar, até o ano passado, 357 mortos e cerca de 140 “desaparecidos” durante o regime.

Desde meados do ano passado, por iniciativa da presidenta Dilma Rousseff, novas apurações estão sendo realizadas em 1.200 novos casos suspeitos de assassinato pelo regime. Estimativas apontam que pelo menos 600 desses casos devem ser confirmados. A soma resultaria em mais de 900 mortos, além dos “desaparecidos”.

Além de assassinar e fazer “desaparecer”, a direita reacionária também costumava torturar e mutilar seus desafetos. Frei Tito é um dos casos conhecidos de brasileiros que, após torturas físicas e psicológicas, tiraram a própria vida depois que saíram da prisão.

As vítimas preferenciais do regime eram líderes políticos de esquerda, sindicalistas, estudantes, lideranças rurais e ambientais, padres e religiosos progressistas.
As mortes, os desaparecimentos e as incontáveis prisões arbitrárias, perseguições e torturas vitimavam não somente os militantes que defendiam ideais democráticos, mas também seus familiares.

As detenções dos “suspeitos de subversão” eram verdadeiros sequestros. A família demorava dias, ou até semanas, para descobrir em qual delegacia, quartel ou porão do regime estava seu filho, marido, pai, mãe, irmão. Isso quando descobria.

A crueldade era tanta que muitos corpos eram enterrados em covas rasas e cobertos com cal para acelerar a decomposição. Um dos locais utilizados para esse fim era o cemitério de Perus, em São Paulo, em uma ala que oficialmente recebia corpos de indigentes e onde, por isso, as sepulturas não eram identificadas. Nesse local foi encontrado o corpo de Vannucchi.

O estudante sorocabano, o jornalista Vladimir Herzog, o operário Manuel Fiel Filho e o deputado Rubens Paiva são algumas das mais conhecidas vítimas fatais da ditadura. Herzog, aliás, teve seu atestado de óbito alterado, após 37 anos de luta de sua família, também no dia 15, no mesmo evento que concedeu anistia ao sorocabano. Onde antes constava “suicídio” hoje consta morte devido maus-tratos sofridos sob custódia do Estado.

Resgatar essa história prova que as liberdades democráticas que usufruímos hoje – e que às vezes mal valorizamos – não são frutos do acaso. Aprender com os erros e injustiças do passado – e lutar para que eles nunca se repitam – é indispensável para a evolução social que todos reclamamos.

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