Não adiantaram os meses de apelos de moradores da Vila Hortência, de artistas e demais sorocabanos para que o prefeito Vitor Lippi (PSDB) respeitasse a identidade histórica da cidade. Na noite do último dia 17 a prefeitura demoliu os prédios do primeiro parque infantil da cidade (CEI-1), construído na década de 1950, na avenida Cel. Nogueira Padilha.
Enquanto o local era reduzido a escombros pelas máquinas, moradores perguntavam aos trabalhadores e repórteres porque tal atitude na calada da noite. A resposta oficial da prefeitura foi que o horário foi definido por motivo “operacional”, para evitar trânsito e poeira no comércio.
Mas o prefeito Lippi sabia que havia um movimento contrário à demolição do local. Por isso, os argumentos da prefeitura não convenceram muitos internautas, que postaram centenas de comentários indignados em redes sociais, como o Facebook, acompanhados de fotos dos escombros, ainda na noite do dia 17.
Além da demolição da estrutura, houve a derrubada de diversas árvores que decoravam e arejavam a região há décadas.
Indignação
Na manhã após a demolição, Gamaliel Vassão de Oliveira, o Gama, morador do bairro, levou a neta Sofia para ver os escombros do local em que eles iam nos finais de tarde ver e ouvir a revoada de passarinhos.
Dizendo estar triste com o fim dado à escola onde um de seus filhos estudou, Gama critica o fato de o prédio histórico ser substituído por uma “Casa do Cidadão” da prefeitura. “Se fosse para derrubar mesmo, que fizesse uma unidade de saúde no local. O bairro não tem um posto de saúde que preste. Mas o prefeito não consultou ninguém para saber o que queríamos “, afirma.
Gama também ficou indignado com o corte de árvores. “Depois a prefeitura vem fazer propaganda de mutirão de plantio em locais afastados, onde já tem natureza. E na cidade? Não merecemos ter um pouco de verde, de ar mais puro?”, indaga o morador.
Democracia virou pó
A prefeitura alega que a demolição do CEI-1 aconteceu com autorização do Ministério Público. “Mas a questão vai além da destruição ser legalizada ou não. Trata-se de respeito ao patrimônio histórico de Sorocaba, às lembranças das pessoas. Trata-se de ter um mínimo de respeito pela opinião da população”, diz o vereador Izídio de Brito (PT).
Segundo reportagem do jornal Cruzeiro do Sul, na noite da demolição, a farmacêutica Daniela de Almeida Henarias, de 35 anos, assistindo à demolição, lamentou: “A história toda de um bairro morreu hoje. Eu estudei aqui, a minha filha estudou aqui”.
Daniela ainda resumiu o sentimento de muitos cidadãos que ainda defendem a história de Sorocaba e dos sorocabanos: “Em Sorocaba, a democracia virou pó”.