Sorocaba vai ter racionamento de água em toda cidade a partir de janeiro. A informação foi confirmada na manhã desta quinta-feira, 30, pelo prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) em entrevista aos veículos de comunicação. Ele também afirmou que haverá multa para a população durante a vigência do plano de racionamento.
De acordo com Manga, o nível da represa de Itupararanga caiu ainda mais e a chuva dos últimos dias não foi suficiente para aliviar a situação. “Mesmo que chova, é importante que faça (o racionamento) para que se possa ter tranquilidade no ano de 2022”, disse ele, completando que é preciso pensar o problema de forma regional.
O prefeito afirmou também que o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) já tem um plano para a implantação do racionamento que deve atingir toda cidade de Sorocaba e que os detalhes serão apresentados em 12 de janeiro. “Que todo mundo possa viver esse momento de sacrifício, entendo a real situação para que a gente possa vencer essa crise”.
Para especialista, clima e estiagem não têm culpa
Em entrevista concedida ao Portal SMetal em outubro deste ano, o vice-presidente do Comitê das Bacias Hidrográficas do Rio Sorocaba e do Médio Tietê e professor da UFScar Sorocaba, André Cordeiro, afirmou que o “clima e a estiagem não têm culpa” da situação.
Segundo ele, são as políticas de controle sobre o consumo que definem o quanto um município ou uma região podem sofrer com a crise hídrica. Para Cordeiro, há mecanismos que podem garantir a distribuição. “A gente sabe a partir do conhecimento científico acumulado que esses períodos de estiagem tendem a ficar mais intensos e prolongados, que são mundiais, mas intensificadas no Brasil por desmatamento da Amazônia, de áreas nas bacias hidrográficas, redução de áreas de proteção permanentes. O que precisa ser feito é que a gestão pública desse recurso leve em consideração a questão ambiental e essa variação climática. Nós temos mecanismos para gerir essa água nos períodos mais intensos e ter água mesmo em períodos de estiagem extrema”.
A maior parte dos municípios e das empresas geradoras de energia, não consideram essas mudanças. “No caso dos municípios é uma consideração por ignorância do processo, no caso das geradoras é uma questão de produção de lucro. Quanto menos água no reservatório, mais dinheiro elas ganham. Precisamos de mecanismos de gestão que contrabalancem o lucro das geradoras de energia com a necessidade de água para o consumo humano. É isso que não está sendo feito”, reforça André.
Papel do Comitê
O Comitê das Bacias Hidrográficas do Rio Sorocaba e do Médio Tietê tem discutido com todos os envolvidos, setores público e privado, a manutenção do reservatório de Itupararanga, que é o reservatório que regula o volume de água do Rio de Sorocaba e é importantíssimo para o abastecimento. “Quase um milhão de habitantes dependem dessa bacia. O comitê tenta preservar a água do reservatório de Itupararanga, diminuindo a saída de água do reservatório e consequentemente diminuindo a vasão do Rio Sorocaba. Ainda não estamos numa restrição de captação, mas isso está próximo de acontecer”, explica Cordeiro.
Para ele, ainda é difícil convencer o poder público. “O Comitê discute no sentido de manter o reservatório e de reduzir o consumo de água, na agricultura, na cidade e na indústria que faz captação direta de água de superfície. É muito difícil convencer o poder público sobre as medidas mais rigorosas, porque nenhum prefeito se sente a vontade de levar notícia tão ruim para a população, mas a natureza, a realidade vai se impor e todas prefeituras terão que fazer ações para reduzir o consumo também porque não vai ter água”, afirma.