O segundo dia da greve nacional dos bancários teve ontem crescimento de 40% da adesão. De acordo como o Comando Nacional da categoria, 8.763 agências e centros administrativos permaneceram fechados durante todo o dia em 26 estados e no Distrito Federal. O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Roberto von der Osten, afirmou que a consolidação da greve revela o nível de insatisfação dos trabalhadores. “Os bancários ficaram ainda mais indignados com a divulgação, pela imprensa, da correção de salários e com o tamanho da remuneração dos altos executivos dos bancos”, afirmou.
A proposta salarial feita pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) é de 5,5% de reajuste, ante uma inflação acumulada de 9,88%, com um abono único de R$ 2.500. O comando assegura que não se chegará a um acordo sem uma propostas que contemple reposição da inflação e aumento real.
Segundo o dirigente da Contraf, a principal divergência da negociação persiste. “Os bancários querem continuar com o modelo de negociação que deu certo nos últimos onze anos, que é a reposição da inflação, mais um ganho real. Os banqueiros querem voltar a um desenho com um índice menor que a inflação mais um abono. Esse formato, que traz redução de salário, foi derrotado nos anos 90. Isso é um retrocesso que não vamos admitir.”
No balanço feito pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, a paralisação atingiu ontem 616 locais de trabalho, sendo 23 centros administrativos e 593 agências, segundo dia de greve dos bancários, na base do Sindicato (São Paulo, Osasco e Região). “Tivemos a adesão de 50 mil bancários, 43% maior que o segundo dia de greve do ano passado. A categoria não aceita essa proposta desrespeitosa: com perda real de 4%, abono que não faz parte do salário e sem o percentual mínimo de distribuição da PLR, que vem caindo cada vez mais, com o Itaú distribuindo apenas 5,4% e Bradesco 6,7% do lucro”, disse a presidenta do sindicato, Juvandia Moreira. “Esperamos uma nova proposta. O silêncio dos bancos é um desrespeito aos trabalhadores e à população”.
A categoria realiza novas assembleias na próxima terça-feira (13) para avaliar os desdobramentos e a continuidade do movimento. Durante a greve, o autoatendimento continua funcionando normalmente. A Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), com validade nacional, tem data-base em 1º de setembro. São mais de 500 mil bancários no Brasil, sendo 142 mil na base do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.
Pouso forçado
Integrantes do sindicato em São Paulo disseram ter flagrado a presença de 400 bancários fora do horário de trabalho, muito deles dormindo em condições precárias, no Centro Administrativo Tatuapé do Itaú, na zona leste. Segundo o diretor da entidade Sérgio Lopes, funcionário do Itaú, funcionários foram coagidos a chegar de madrugada e até a dormir da unidade. A equipe do sindicato chegou ao local e, depois de receber denúncia anônima, diz ter confirmado a irregularidade.
“Encontramos pessoas dormindo em colchonetes no chão, sofás e outros debruçados nas estações de trabalho. Isso é prática antissindical. Um desrespeito ao direito de greve, previsto na Constituição”, relata o dirigente sindical. Segundo ele, havia uma grande fila de táxis que levavam bancários até a concentração. Foram encontradas ainda máquinas com um aviso para não serem desligadas. “O banco faz isso com objetivo de contingenciar. Com o computador ligado, o funcionário pode acessar de outro local e trabalhar remotamente”, disse Lopes.
A entidade informa ainda que as instituições financeiras se organizam para driblar o direito de greve com práticas ilegais e antissindicais, como ameaças de advertência, listas de retaliação, transporte irregular para outras unidades, aluguel de imóveis para montagem de contingenciamentos que muitas vezes colocam em risco a segurança dos empregados. “Essa situação é mais uma faceta que demonstra o desrespeito dos bancos”, critica a presidenta do Sindicato. “Isso só faz aumentar a insatisfação dos trabalhadores que já é gigantesca com a proposta rebaixada apresentada pela Fenaban.”