*Texto publicado originalmente na Folha Metalúrgica nº 804 – edição especial sobre a cláusula dos acidentados
De 2012 a 2014 a imprensa do SMetal cobriu 25 reintegrações ao trabalho de metalúrgicos acidentados ou com doença ocupacional, a média de oito por ano.
A advogada do SMetal, Kelly Aparecida de Freitas Rodrigues, explica que a cláusula da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria metalúrgica para lesionado e/ou acidentado visa proteger o trabalhador que se dedicou ao trabalho, “pois não é justo que pelas condições oferecidas a ele de riscos profissionais, ele seja jogado no mercado de trabalho. Mesmo porque não é fácil para ele conseguir outro trabalho”.
Mesmo com a estabilidade assegurada, os metalúrgicos lesionados, infelizmente, têm que lidar contra a discriminação da chefia e contra o medo de seus colegas que os impedem de puxar uma simples conversa. No campo pessoal, convivem com a dor e com adaptações.
Os depoimentos nesta página mostram o quanto é urgente a conscientização sobre o tema.
O SMetal luta para que as empresas tenham um ambiente de trabalho seguro, diminuam a pressão por produção e coíbam o assédio moral.
Emprego garantido, agora a luta é contra a discriminação
Em 1995, quando a internet entrava de vez no Brasil e Itamar Franco deixava a presidência do país, a segurança no trabalho era ainda um tema pouco comentado. Foi nesse ano que Pedro Alves Rabelo, 47 anos, sofreu um acidente de trabalho enquanto recuperava uma bateria na então Microlite S/A (atual Johnson Controls). “A máquina não tinha proteção e acabou arrastando meu dedo médio”. Pedro passou por cirurgia, fez fisioterapia, retornou ao trabalho e depois teve que fazer outra intervenção cirúrgica, foi afastado pelo INSS. O metalúrgico recuperou o dedo, mas não pode exercer função que sobrecarregue a mão. O nexo causal foi reconhecido, já que o acidente aconteceu dentro da empresa. Em janeiro de 1999, Pedro entrou, pelo departamento jurídico do Sindicato, com processo de reintegração e voltou ao trabalho em 2002. A empresa o colocou para trabalhar no setor fiscal, mas depois o deslocou várias vezes de função, sem alterar seu salário, mesmo tendo trabalhado quase dez anos no fiscal, passando pelo arquivo e expedição. Depois de um corte de pessoal no setor fiscal, no começo deste ano, Pedro responde pela logística, na área de expedição. Ele sente uma discriminação por parte da empresa. Durante os anos que trabalhou no depto fiscal ele viu outros trabalhadores com menos experiência que ele sendo valorizados com plano de carreira enquanto sua carteira |
Pedro: Trabalha na Johnson Controls desde 1989 e luta pela equiparação salarial |
‘Eu não sabia que a doença é crônica’ Após trabalhar pouco mais de um ano no abastecimento de linhas da Flextronics, a metalúrgica Bianca Clemente, 33 anos, passou a sentir incômodo nos punhos, cotovelo e ombro. Dores que pareciam formigamento, mas que não a preocuparam tanto até que um dia o punho abriu durante sua rotina no trabalho. Ela carregava peso o dia todo. Quando isso aconteceu foi ao médico, que enfaixou seu punho. “As dores continuaram e eu procurei um ortopedista que solicitou exames e diagnosticou as lesões”, conta. Bianca fez fisioterapia e ficou 15 dias afastada, voltando imediatamente para a empresa preocupada com o emprego. Mesmo em outra função os movimentos repetitivos continuaram a ser feitos e no mesmo ano a mandaram embora da fábrica. Depois de ser dispensada sem justificativa a trabalhadora entrou com processo na justiça, conseguindo retornar à empresa no dia 20 de julho deste ano. A Justiça reconheceu o nexo causal. Trata-se de uma doença ocupacional e tem garantia de estabilidade até sua aposentadoria, conforme prevê a cláusula da categoria metalúrgica. Até o dia 3 de setembro a empresa ainda não tinha direcionado Bianca a uma função específica. Mas só de colar umas etiquetas sua mão ficou inchada. “É uma doença que vou levar pra vida inteira”. Em sua casa Bianca não consegue fazer todas as tarefas como antes e na empresa ela percebe que muitas pessoas têm medo de conversar com ela com receio de represálias. “Infelizmente, vejo que muitas mulheres na linha de produção sentem dores, mas não reclamam com medo de perderem o emprego. Eu também não sabia que a doença é crônica”. |
Bianca: Tem 33 anos e dois filhos e sofre com as lesões por esforços repetitivos |
O filme de Charles Chaplin “Tempos Modernos” é de 1936, mas a comparação de homens como meras máquinas em funcionamento, nas fábricas, continua atual. Movimentos repetitivos, carregamento de peso e pressão por mais produção são constantes nas linhas de produção. Quando o operador de máquina Roberlei Alessandro Doratiotto, 35 anos, teve sua coluna lesionada devido ao esforço diário que dedicava na Lemforder, planta da ZF, em Sorocaba, sua vida mudou tanto no campo profissional como no pessoal. Ele trabalha na empresa há sete anos. “Em 2013 não havia nenhum equipamento de proteção para a coluna e eu carregava muito peso”. Ele lembra que chegou a passar no ambulatório da ZF do Brasil, que acabava de ser implantado. Após fazer exames pelo convênio médico a empresa o colocou em outra função, de montagem. Mas depois de quatro meses foi mandado embora. A justificativa era corte de pessoal. Após ter ficado afastado pelo INSS por dois meses Roberlei entrou com processo contra o instituto e o juiz reconheceu que o problema na coluna foi ocasionado pelo trabalho. Com a decisão, ele retornou à ZF como auxiliar de máquina em 27 de janeiro deste ano. O metalúrgico explica que o processo de reintegração está em andamento e aguarda a decisão final. |
Roberlei: É metalúrgico da ZF e aguarda decisão definitiva pela reintegração |
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