Editorial

Palavra da Diretoria- Quem não foi, perdeu

Neste editorial, cabem apenas pequenos exemplos da riqueza dos debates da abertura da Sesispat. As informações e análises expostas no evento, despertaram reflexão sobre temas da classe trabalhadora

Imprensa SMetal

Quem assistiu às palestras de abertura da nossa 9ª Sesispat, na noite desta terça-feira (Leia na pág. 7), certamente não se arrependeu. Os expositores foram, sem exageros, brilhantes em seus argumentos e informações. O volume e a qualidade dos fatos e dados apresentados nas palestras esclarecem muito do que vem ocorrendo na disputa entre capital e trabalho no Brasil e no mundo.

Melhor: apontam caminhos para solucionar problemas enfrentados pelos trabalhadores atualmente, não só na área de saúde e segurança ocupacional, mas nas relações de trabalho em geral.

O juiz/desembargador do Tribunal Regional do Trabalho, João Batista Martins César, por exemplo, fez uma constatação que ajuda a explicar e justificar muitas das manifestações e greves de trabalhadores que vêm ocorrendo no Brasil, inclusive em Sorocaba. Ele lembrou que o país vive hoje uma situação de pleno emprego, com um desemprego de apenas 6%, que é considerada uma taxa residual em qualquer país do mundo. Porém, a remuneração dos trabalhadores ainda está longe de ser satisfatória de fato.

Até dez anos atrás, surrados por sucessivas crises econômicas, fechamento de empresas e demissões em massa, os trabalhadores, em sua maioria, viam-se obrigados a sentir-se satisfeitos só pelo fato de ter um emprego. As prioridades da luta sindical coletiva tinham que ser a manutenção de postos de trabalho, a preservação de direitos trabalhistas pré-existentes (que eram constantemente ameaçados por patrões e governos) e a reposição da inflação estratosférica nos salários.

Hoje essa realidade mudou. O Brasil evoluiu. A estabilidade econômica gerou um novo perfil de trabalhadores, que, ainda bem, não se contenta mais com o básico. O trabalhador quer ser valorizado, quer ganhar mais, quer ter mais benefícios e direitos.

Essa mudança é ótima e necessária, mas tem um “porém”. Em grande parte, a busca atual pelo crescimento e valorização profissional é individualizada. O espírito de coletividade é deixado de lado e, na sua ausência, o individualismo cria condições para a continuidade da exploração patronal. A prática da injustiça muda de métodos, mas não de intenções.

Ao individualizar sua luta por melhorias, o trabalhador sujeita- se a condições precárias por muito tempo e, quando resolve se indignar, exige a solução de todos os problemas acumulados de uma só vez. Podemos afirmar que essa “explosão de indignação”, aliada à ansiedade da chamada nova classe média e ao imediatismo típico juvenil, foram, também, em parte, responsáveis por bons e maus momentos das manifestações de junho.

Voltando à palestra do juiz, ele afirmou que a remuneração insatisfatória – e a consequente busca do trabalhador por complementos, como as horas-extras e a exposição a condições precárias – estão entre os motivos de muitos acidentes e doenças ocupacionais atualmente.

Neste editorial, cabem apenas pequenos exemplos da riqueza dos debates da última terça-feira. As informações e análises expostas do evento, mais do que municiarem o público com leis, fatos e argumentos, proporcionaram a oportunidade de reflexão sobre temas de suma importância para a classe trabalhadora contemporânea.

Por fim, só temos a agradecer a generosidade e a dedicação dos palestrantes Roberto Ruiz, médico do Trabalho; Guilherme Bassi de Melo, professor de Direito; e João Batista Martins César, desembargador do TRT.

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